Às 20h – quase isso, na verdade – eu cheguei no local combinado. A
Clara estava cobrindo uma outra funcionária naquele sábado, então pediu que eu
a encontrasse num bar perto da loja em que ela trabalhava, nas redondezas da
Teodoro. Sua função, como ela mesma me descreveu no nosso segundo encontro, era
“vender instrumentos ridiculamente caros a músicos que se superestimavam”. E ela
odiava.
Naquela noite, por algum motivo qualquer, resolvi trocar o busão que
parava quase em frente ao tal barzinho pela rapidez subterrânea do metrô e
andar algumas poucas quadras. Vai ser bom caminhar, pensei. Pra quê? Assim que pisei para fora da
estação Clínicas, o céu paulistano resolveu cair. Ah, pronto. Fiquei na
porta da estação, observando a chuva e os minutos no relógio. Com o passar do
tempo e nenhum sinal de qualquer boa notícia lá de cima, me vi obrigada a
correr alguns quarteirões rua abaixo. Fiquei encharcada.
Valeu, São
Paulo.
Quando finalmente encontrei o bar, eu já estava atrasada. Argh.
Para ajudar, a minha regata branca tinha se tornado nula sobre o meu corpo e o
meu cabelo parecia saído de uma rinha de galo no meio do Atlântico. Maldita cidade da “garoa”. Entrei no bar
xingando e trombando em todos os idiotas que se colocaram na minha frente
fazendo trocadilhos ambíguos e asquerosos, do tipo “posso te secar?”, até
encontrar uma mesa vazia no fundo do estabelecimento, onde me sentei por um
instante.
Após recuperar o fôlego – e momentaneamente a calma –, tirei o
celular do bolso e notei uma mensagem não lida da Clara. "To aqui, cade vc?", li. Puta que pariu, só falta eu ter entrado no lugar errado. Levantei
irritada da mesa e comecei a procurá-la. O bar estava lotado, transbordando de
empresários prepotentes e os bêbados de Pinheiros. Credo. Foi quando, de repente, eu avistei a Clara. Sentada ao lado
de uma outra garota na bancada, segurando uma cerveja, com as costas de fora, num
vestido que parecia feito exclusivamente para me matar do coração – tudo o que
eu não esperava de alguém que tinha acabado de sair do trabalho.
Perdi o fôlego, puta merda.
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